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Rei Momo

Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
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Até o final do século XIX, falava-se no Deos Momo, um personagem que perdeu sua condição divina, tornando-se humano e transformando-se em rei.

Na mitologia grega, Momo é o filho do Sono e da Noite, o deus da festividade. Alegre, descontraído, zombeteiro, irreverente, sarcástico e satírico, tinha o hábito de ridicularizar os outros deuses, sendo por isso expulso do Olimpo e despachado para a Terra.

Era representado por um jovem retirando a máscara, exibindo um rosto zombeteiro e sacudindo guizos, segurando um estandarte da folia, razão da sua existência.

Posteriormente, passou a ser representado com uma roupa semelhante a do monarca francês Luiz XIV, conhecido como o Rei Sol.
Há registros históricos sobre a existência de reis Momos antes da era cristã. No século 4 a.C., gregos e romanos já incorporavam essa figura mitológica em algumas de suas festas comemorativas, principalmente as orgias, envolvendo sexo e bebidas. Momo era gordo para simbolizar fartura e a abundância.

Na Roma Antiga, anualmente, havia grandes festas em homenagem ao deus do tempo, Saturno, as chamadas saturnais, das quais participavam pessoas de todas as classes sociais, de nobres a escravos.  Durante a realização da festa, escolhia-se o mais belo soldado e concedia-lhe a coroa de Rei Momo, o que lhe permitia beber, comer e brincar a vontade, sem nenhum tipo de limite. Terminada a festa, ele era conduzido solenemente para ser sacrificado ao deus Saturno.

Historicamente, o palhaço, artista de circo e cantor mineiro Benjamim de Oliveira foi o primeiro Rei Momo coroado no Brasil, em 1910. No entanto, o personagem só passou a ser conhecido como o comandante do carnaval no Rio de Janeiro, em 1933. Um cronista esportivo do jornal carioca A Noite apresentou aos carnavalescos um boneco de papelão, sugerindo que ele desfilasse pela cidade como o comandante da folia. Depois foi colocado em um trono para presidir simbolicamente as comemorações carnavalescas daquele ano.

Posteriormente, os proprietários do jornal resolveram criar um Rei Momo de verdade. Foi escolhido o gordo chefe da seção de turfe da empresa, o jornalista Moraes Cardoso. Vestido como um rei desfilou pelas ruas do Rio de Janeiro sendo saudado com muito confete, serpentina e lança-perfume.

O “reinado” de Moraes Cardoso durou até a sua morte, em 1948. Seus substitutos, até o ano de 1967, eram escolhidos por agremiações carnavalescas e jornalísticas. A partir de 1968, a eleição do Rei Momo no Rio foi oficializada por lei estadual e, em 1988, por lei municipal.

Em 1934, foi eleito o primeiro Rei Momo paulista, na cidade de Santos: o boêmio, esportista, cantor e carnavalesco Eugênio de Almeida, conhecido pelo apelido de Tosca.

Em Pernambuco, o primeiro concurso de Rei Momo aconteceu no carnaval recifense em 1965.

Em fevereiro de 1963, a Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes de Santos promoveu a I Convenção Nacional de Reis Momos, reunindo naquela cidade representantes dos estados de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Maranhão e São Paulo. Em sessão plenária, foram discutidos assuntos como a dignidade do personagem e a padronização do seu traje. A II Convenção Nacional também foi realizada em Santos, no ano de 1966, contando com a participação dos reis Momos que estiveram presentes na I Convenção e mais os representantes dos estados do Pará e do Rio Grande do Norte.

Hoje, em algumas cidades brasileiras, não é necessário mais ser gordo para participar do concurso. Para não estimular a obesidade foi retirado esse requisito, privilegiando outros critérios como a capacidade de comunicação, alegria, simpatia e irreverência. Em 2004, a Prefeitura do Rio de Janeiro resolveu não mais exigir um peso mínimo para os candidatos.

Após muita polêmica, e contrariando a tradição, o comerciante Clarindo Silva de Jesus foi coroado Rei Momo da cidade de Salvador, Bahia, em 2008, pesando apenas 58 quilos.

Em 2011, a Prefeitura do Recife decidiu acabar com o concurso de Rei Momo tradicionalmente realizado no Pátio de São Pedro. Os candidatos a rei e rainha do carnaval recifense serão escolhidos durante o Baile Municipal do Recife. Ser gordo não é mais um critério exigido para ganhar o concurso de Rei Momo. Para a Prefeitura, a saúde das pessoas deve estar acima das tradições culturais, não se devendo estimular práticas que coloquem em risco a vida das pessoas.

O atual Rei Momo do Carnaval do Recife, eleito quatro vezes, é o coreógrafo Ivanildo Silva, que em 2010, pesava 178 quilos.

Durante o Carnaval, o Rei Momo recebe as chaves da cidade, passando a ser seu governante simbólico.


Recife, 10 de fevereiro de 2011.

 


FONTES CONSULTADAS:



BANDEIRA JÚNIOR. Convenção nacional de reis Momos. Cadernos do CERU, São Paulo, n. 11, p. 48-49, set. 1978.

CONHEÇA a história do Rei Momo. Disponível em: <goo.gl/fFeCRg>. Acesso em: 1º fev. 2011.

DANNEMANN, Fernando Kitzinger. Rei Momo: o dono do carnaval, 2006. Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/103837>. Acesso: 1º fev. 2011.

FIM do concurso para Rei Momo do Recife. Diario de Pernambuco, Recife, 22 jan. 2011.

QUAL a origem do Rei Momo? Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/cultura/pergunta_286824.shtml>. Acesso em: 2 fev. 2011.

SAGRADO e profano o Carnaval é! Disponível em: <http://www.educacional.com.br/reportagens/carnaval/sagrado.asp>. Acesso em: 1º fev. 2011.

 


COMO CITAR ESTE TEXTO:



GASPAR, Lúcia. Rei Momo. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php>. Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

 
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