Quilombo dos Palmares |
Lúcia Gaspar Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
Serra da Barriga! Barriga de negranina! As outras montanhas se cobrem de neves, De noiva, de nuvens, de verde! E tu, de Loanda, de panos-da-costa, De argolas, de contas, de quilombos!
Serra da Barriga! Te vejo da casa em que nasci. Que medo danado de negro fujão!... Jorge de Lima Onde houve escravidão houve resistência e um dos tipos mais característicos de resistência negra na luta pela liberdade foi a fuga e A formação de grupos de escravos fugidos.
No Brasil esses grupos foram chamados principalmente dequilombos ou mocambos e seus membros de quilombolas,calhambolas ou mocambeiros. Durante mais de 300 anos de escravidão no Brasil, os quilombos funcionaram como “válvula de escape” para a falta de liberdade e a violência das senzalas. Já em 1597, numa carta do Padre Pero Lopes, provincial dos jesuítas em Pernambuco, há referências a grupos de escravos revoltados. O quilombo dos Palmares, nasceu de escravos fugidos, principalmente, dos engenhos de açúcar pernambucanos, que se agruparam inicialmente a cerca de 70 quilômetros a oeste do litoral de Pernambuco, na Serra da Barriga, local de densas florestas de palmeiras (daí o nome Palmares), com terreno acidentado, o que tornava o acesso mais dificil. O primeiro grupo de escravos construiu seus mocambos numa aldeia que foi denominada de Macaco, nome que poderá ser de origem banto (raça negra do sul da África), apesar dos portugueses o interpretarem como uma menção ao animal macaco. Era também chamada de Cerca Real e tornou-se com a expansão do quilombo sua capital ou quartel general. Palmares chegou a contar com nove aldeias: Macaco.Andalaquituche, Subupira, Dambrabanga, Zumbi, Tabocas, Arotirene, Aqualtene e Amaro. A floresta fornecia ao quilombola quase tudo que ele precisava para viver, como frutas para comer; folhas de palma, com a qual cobriam as choupanas; fibras para a confecção de esteiras, vassouras, chapéus, cestos; o coco para fazer óleo; a casca de algumas árvores que serviam para fazer roupas. Além de praticarem a caça e a pesca, eles plantavam milho, mandioca, feijão, legumes, fumo, e cana-de-açúcar, que abasteciam a comunidade e eram também comercializados com povoações vizinhas. O quilombo era organizado como um pequeno Estado. Havia leis e normas que regulamentavam a vida dos seus habitantes, algumas até muito duras; roubo, deserção ou homicídio eram punidos com a morte. As decisões eram tomadas em assembléias, da qual participavam todos os adultos, sendo aceitas pois resultava da vontade coletiva. Há registros da presença permanente, além de negros, de mulatos, índios e brancos nas aldeias. Talvez a perseguição existente na época a minorias étnicas, como judeus, mouros e outros, além do combate às bruxas, heréticos, ladrões e criminosos, possa explicar que alguns brancos tenham ido viver no quilombo de Palmares. Os negros palmarinos eram católicos. Nas aldeias havia igrejas e até padres católicos. Os habitantes falavam várias línguas e dialetos em Palmares, inclusive o português ou um crioulo de português, mas não se sabe qual a língua comum usada no quilombo. Considerados como uma grave ameaça para a classe dos proprietários rurais, senhores-de-engenhos e fazendeiros, o quilombo foi sistemática e duramente reprimido. Existiam os chamados capitães-do-mato, especialistas na captura dos negros fugidos e periodicamente também eram organizadas expedições para destuir seus esconderijos. As expedições, também conhecidas como “entradas”, vasculhavam a floresta a procura dos negros “rebeldes”. Apesar da freqüência com que essas expedições eram enviadas, surgiram diversos quilombos no Brasil, principalmente no Nordeste, e o de Palmares foi o mais conhecido pela sua organização e resistência. De 1602 até 1694, foram enviadas diversas expedições para destruir Palmares, tanto pelos portugueses como também pelos holandeses que invadiram Pernambuco, em 1630. Nessa época, já existia no quilombo cerca de 10 mil habitantes. Até 1640, Palmares cresceu tanto que os flamengos chegaram a considerá-lo “um sério perigo”, enviando duas expedições para destruí-lo, uma em 1644 e outra em 1645, sem sucesso. Depois que os holandeses deixaram o Brasil, em 1654, os portugueses organizaram mais inúmeras expedições contra Palmares, pondo em marcha, a partir de 1670, um plano de destruição sistemática. As batalhas eram sangrentas, havendo baixas dos dois lados, mas sem nenhum vencedor. Em 1674, foi enviada pelo então governador da província de Pernambuco, Pedro de Almeida, uma grande expedição, com a presença de índios e uma tropa de negros chamada Terço de Henrique Dias, que havia sido criada para combater os holandeses, porém também dessa vez a luta terminou sem um vencedor. Em 1675, Manuel Lopes à frente de um grande exército destruiu uma das aldeias de Palmares, capturando dezenas de negros e instalando-se no local conquistado. Em 1676, recebeu a ajuda de um grande estrategista na luta contra quilombolas e índios, Fernão Carrilho, o qual, em 1677, atacou de surpresaAqualtene, montou seu quartel general na aldeia e fez uma série de ataques, matando um e aprisionando outros dois filhos de Ganga Zumba, o rei de Palmares, capturando depois o próprio rei. O governador Pedro de Almeida temendo uma reorganização futura do quilombo, propôs um acordo de paz a Ganga Zumba: Palmares submeter-se-ia à Coroa Portuguesa em troca de liberadade administrativa, seria considerada uma vila e Ganga Zumba receberia o cargo de mestre-de-campo. Militarmente em desvantagem o acordo foi aceito, mas a decisão não agradou a todos os palmarinos. Ganga Zumba foi envenenado e Zumbi (chefe da aldeia Zumbi), tornou-se rei do quilombo. Zumbi, o novo rei, conseguiu derrotar todas as expedições enviadas a Palmares, entre 1680 e 1691, tornando-se temido e respeitado. Em 1691, o novo governador de Pernambuco, Souto Mayor, organizou um exército para acabar definitivamente com o quilombo dos Palmares, contratando um célebre sanguinário exterminador de índios chamado Domingos Jorge Velho. Em 1692, Domingos Velho atacou a aldeia de Macaco, local onde ficava Zumbi e teve suas tropas arrasadas. Pediu reforço e recebeu a ajuda de tropas chefiadas por Bernardo Vieira de Melo. Até janeiro de 1694, o quilombo ficou sitiado, mas repeliu todas as investidas do exército, capitulando finalmente no dia 6 de fevereiro desse mesmo ano, quando o exército com as tropas reforçadas invadiu o local e derrotou os quilombolas. Zumbi conseguiu escapar e só foi capturado um ano depois. Morto e esquartejado, teve sua cabeça exposta na cidade de Olinda.
Recife, 9 de dezembro de 2004. (Atualizado em 31 de agosto de 2009).
FONTES CONSULTADAS: DÉCIO, Freitas. Palmares: a guerra dos escravos. 4.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1982. p.123-132. MOTTA, Roberto. Palmares e o comunitarismo negro no Brasil. Revista do Patrimônio Histórica e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n.25, p.223-230, 1997. REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos (Org.). Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SILVA, Fernando Carreia da. Zumbi dos Palmares: libertador dos escravos: 1655-1695. Disponível em: < http://vidaslusofonas.pt/zumbi_dos_palmares.htm> Acesso em: 16 nov. 2004.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: GASPAR, Lúcia. Quilombo dos Palmares. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009. |