Rua Nova / Recife-PE |
Lúcia Gaspar Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
De acordo com documentos holandeses, confirmados num mapa por Barléus, no seu livro História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil (sobre o governo de Maurício de Nassau), existia um bastião (parte de uma fortificação) num ponto onde começa a rua Nova. Junto ao local, os flamengos construíram uma casa para a guarda de apetrechos de guerra, especialmente pólvora.
Com o surgimento de um arruamento na área, a Casa da Pólvora – como era conhecida – teve que ser transferida para outra localidade, por conta do perigo que representava, sendo a edificação e o terreno vendidos a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz do Corpo Santo. Ali seria erguida a Matriz da Freguesia de Santo Antônio e aberta a nova rua.
Em decorrência dos trabalhos da nova Ponte da Boa Vista foram realizados aterros que possibilitaram o aumento da extensão da Rua Nova da Casa da Pólvora (seu primeiro nome) que foi construída entre 1746 e 1749. Há indícios que, após a construção da igreja matriz, a rua chegou a ser chamada de Rua Nova de Santo Antônio. Em 1870, sua denominação passou a ser Barão da Vitória, em homenagem ao General José Joaquim Coêlho. Nova mudança ocorreu em 1930: Rua João Pessoa. Entretanto, o fato histórico do assassinato do então Presidente da Paraíba na Confeitaria Glória, localizada nessa via, não mais justificava a concessão da honraria. Finalmente, a Lei nº 33, de 9 de junho de 1937, restaurou o antigo nome.
Com fama de ser a mais importante rua comercial da cidade do Recife, compreende o trecho que vai da Praça da Independência (Pracinha do Diario) até a Ponte da Boa Vista. O surgimento do comércio a varejo, a presença de casas de modas e cinemas impulsionaram a atividade social na área.
No dia 27 de julho de 1909, foi inaugurado o cinema Pathé, que possuía um salão de rosas e violetas. Comportava 320 pessoas e a entrada custava 1$000 réis. Existiam, ainda, os cinemas Royal e Vitória. Das 17h às 21h, funcionavam o Café Ruy e o Café Familiar, locais onde os estudantes se reuniam e iam tomar os famosos “sorvetes de neve”, na época em que o gelo vinha de fora.
A Casa Inglesa de Emília Brack, aberta em 1912, que comercializava bijuterias e artigos femininos, inovava o sistema de vendas, utilizando moças atraentes e elegantes, trajando vistosos uniformes. A Casa Hermes, em 1942, especializada em aluguel de trajes a rigor, tornava-se ponto de encontro de homens e mulheres. O tempo dos footings (passeios a pé para espairecer ou como exercício físico) e a presença de artistas e amantes da boemia caracterizavam a via pública.
O escritor Edson Nery da Fonseca no artigo Memórias da Rua Nova, publicado no Jornal do Commercio, Recife, em 1994, recorda:
Impossível esquecer a Rua Nova do meu tempo de menino e adolescente. A Primaveranão exibia, como hoje, suas mercadorias que, aliás se restringiam a tecidos finos [...] Surgiu, depois, a Casa Matos, que concorria com A Primavera [...] Em frente à Casa Matos, a ainda existente e sempre elegante Sloper; e ao lado, na esquina com a Rua da Palma, a Confeitaria Fênix, que, além de vender especiarias finas, servia excelente uísque importado. Ainda alcancei, na outra esquina, a Confeitaria Glória.[...] No mesmo lado havia uma loja de eletrodomésticos de A. J. Figueiredo, a do Dr. Scholl, a Sapataria Inglesa, a Farmácia Villaça e, já quase pegada à sacristia da Matriz de Santo Antônio, uma das mais conceituadas joalharias do Recife: Ao Anel de Ouro.
Provavelmente, por sua importância comercial e cultural, em maio de 1924, começou a circular na cidade o periódico intitulado Rua Nova, que publicava notícias e anúncios de interesse da sociedade recifense.
Na Rua Nova funcionou o Hospital São João de Deus, até ser transferido para o Pátio do Paraíso. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, destaca-se como um dos mais belos templos setecentistas do Brasil. Nela funciona o Museu de Arte Sacra, instalado em 1966, que é aberto à visitação.
Recife, 24 de fevereiro de 2010.
FONTES CONSULTADAS:
BRAGA, João. Trilhas do Recife: guia turístico, histórico e cultural. 6. ed. Recife: Bagaço, 2007. p. 69.
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e suas ruas: se essas ruas fossem minhas... Recife: Edições Edificantes, 2002. 140 p. il. p. 59.
FRAGOSO, Danillo. Velhas ruas do Recife. Recife: UFPE, Imprensa Universitária, 1971. p. 60.
FRANCA, Rubens. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco, 1977. p. 148.
SILVA, Leonardo Dantas. Arruando pelo Recife: por ruas, pontes, praias e sítios históricos. Recife: SEBRAE/PE, 2000. 178 p. il. p. 101-102.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
GASPAR, Lúcia. Rua Nova. Pesquisa Escolar online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/ >. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009). |