Leandro Gomes de Barros |
Lúcia Gaspar Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
[...] Não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro. (Carlos Drummond de Andrade, Jornal do Brasil, 9 set. de 1976)
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LEANDRO GOMES DE BARROS
A cabeça um tanto grande e bem redonda, O nariz, afilado, um pouco grosso; As orelhas não são muito pequenas, Beiço fino e não tem quase pescoço.
Tem a fala um pouco fina, voz sem som, Pouca barba, bigode fino e louro. De cor branca e altura regular, Cambaleia um tanto quanto ao andar.
Olhos grandes, bem azuis, da cor do mar; Corpo mole, mas não é tipo esquisito, Têm pessoas que o acham muito feio, Sua mãe, quando o viu, achou bonito!
O poeta popular Leandro Gomes de Barros, nasceu na Fazenda Melancia, no município de Pombal, Paraíba, no dia 19 de novembro de 1865.
No início da década de 1880, mudou-se para a vila de Teixeira, um dos berços da literatura popular do Nordeste brasileiro, onde teve como tutor o padre Vicente Xavier de Farias, passando a conviver com violeiros e cantadores como Ignácio da Catingueira, Romano da Mãe d’Água, Bernardo Nogueira, Hugolino do Sabugi, Nicandro Nunes da Costa.
Deixando a Paraíba, viajou para Pernambuco fixando residência primeiro em Vitória de Santo Antão, depois no município de Jaboatão, onde morou até 1906 e casou com Venustiniana Eulália de Sousa, com quem teve quatro filhos: Rachel, Erodildes (Didi), Julieta e Esaú Eloy.
Autor de centenas de folhetos de cordel, que começou a publicar no final da década de 1880 e início dos anos 1890, Leandro Gomes de Barros foi um dos poucos poetas populares a ter nessa atividade sua principal fonte de renda durante toda a vida.
A partir de 1907, mudou-se para o Recife, residindo em diversos endereços, entre os quais o da Rua Motocolombó, n.87, no bairro de Afogados.
Nessa época, tornou-se proprietário de uma pequena gráfica, aTypografia Perseverança, criada única e exclusivamente para imprimir e distribuir seus folhetos. A dificuldade de impressão era grande, por isso os poetas-editores tinham que usar a criatividade: aproveitavam as horas ociosas das tipografias dos jornais ou pequenas oficinas gráficas para imprimir suas obras.
Leandro viajava muito para divulgar e vender seus trabalhos. Conviveu com homens cultos e é provável que tenha lido poetas eruditos como Castro Alves, Gonçalves Dias, Camões, além de ser um bom conhecedor da Bíblia, fruto talvez do tempo em que passou sob a tutela do padre Vicente Xavier de Farias, vigário e mestre-escola na vila de Teixeira.
Sintonizado com as coisas do seu tempo e muito curioso em relação as do passado, não se limitou a reaproveitar os temas correntes como a gesta do boi (Boi Misterioso), o cangaço ou temas europeus (Carlos Magno e o Rei Arthur), criando uma poesia bem brasileira. Sua obra abrange todos os gêneros e modalidades da literatura popular: peleja, romance, gracejo, sátira e crítica social. Os temas mais recorrentes na sua obra são o folheto-reportagem, com assuntos do cotidiano, desastres, guerra, política, cangaço; a sátira, principalmente ao casamento, às religiões católica e protestante, à cobrança de impostos, aos políticos e aos charlatões, além do romanceiro, contos de fadas e lendas. São temas freqüentes na sua poesia a mulher, a sogra e a cachaça. Criou também alguns tipos marcantes como o Cancão de Fogo, que incorpora traços autobiográficos e João Leso.
Um dos pioneiros da poesia popular brasileira, Leandro Gomes de Barros é autor de centenas de folhetos de cordel, alguns com grande aceitação popular, como O Cachorro dos Mortos; Branca de Neve e o Soldado Guerreiro; Batalha de Oliveiros com Ferrabrás; Peleja de Riachão com o Diabo; História da Donzela Teodora; Juvenal e o Dragão; Antônio Silvino; o Rei dos Cangaceiros e O Boi Misterioso.
Sua obra foi estudada por diversos pesquisadores, tendo, inclusive, influenciado alguns escritores renomados, como Ariano Suassuna que afirmou ter se inspirado em dois de seus folhetos: O enterro do cachorro e A história do cavalo que defecava dinheiro, para escrever O auto da Compadecida.
Sobre ele escreveu o folclorista Luiz da Câmara Cascudo, que o conheceu em João Pessoa:
Leandro Gomes de Barros morreu no dia 4 de março de 1918, no Recife.
Após sua morte, em 1921, seus direitos autorais foram vendidos pela viúva, para o poeta João Martins de Atayde, que passou a publicá-los omitindo nas capas o nome do autor e alterando, em alguns deles, o acróstico na estrofe final de muitos folhetos, numa tentativa de confundir a identificação da obra.
Atualmente, há vários pesquisadores do tema que buscam restituir a autoria dele e de outros poetas populares.
Recife, 29 de maio de 2008.
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