Santo Antônio (Bairro, Recife) |
Semira Adler Vainsencher Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco ![]() No princípio da colonização portuguesa, a ilha onde se encontra hoje o bairro de Santo Antônio pertencia ao colono Marcos André - fundador do Engenho da Torre - continha somente algumas casas de pescadores, e era chamada Ilha dos Navios, porque servia para fazer reparos em navios e outras embarcações que atracavam no Porto do Recife. No início do século XVII, foi fundado um convento e a área, que media aproximadamente seis hectares, passou a ser chamada Ilha de Santo Antônio. Além dessas duas denominações, a localidade foi ainda conhecida como Ilha de Antônio Vaz, Porto dos Navios e Ilha do Governador. No extremo norte da ilha, nos anos 1638/39, o conde construiu o Palácio de Friburgo, também chamado Palácio das Torres, que possuía duas torres altas, várias espécies de animais, e um jardim botânico repleto de plantas exóticas. O jardim zôo-botânico de Nassau, o primeiro existente no Brasil, se localizava na atual Praça da República, um dos mais belos logradouros públicos da cidade, bem como o principal centro cívico, cultural e administrativo do Recife. O jardim ficava próximo às atuais ruas Primeiro de Março e do Imperador que, na época, eram chamadas, respectivamente, rua do Crespo e do Colégio. Em 1789, através de muitos aterros, vale lembrar, iniciou-se uma série de transformações na localidade, sendo criada a Freguesia do Santíssimo Sacramento do Santo Antônio. Os primeiros engenhos de açúcar - formados pelos senhores de engenhos e suas famílias, lavradores, capelães, feitores, banqueiros e escravos - foram aparecendo às margens do rio Capibaribe, e se constituindo em grandes núcleos populacionais que se multiplicavam nas senzalas, dando origem às vilas. No bairro, em 1643, Nassau construiu o Palácio da Boa Vista - ou Schoonzit, em holandês - destinado ao seu repouso e lazer. Ficava situado na área onde se encontra, hoje, o Convento do Carmo do Recife. A expressão Boa Vista, colocada pelo conde, deveu-se à bela paisagem que podia ser contemplada de qualquer ponto do palácio. Diante do seu portão, ele mandaria construir a segunda ponte da cidade Maurícia, a primitiva Ponte da Boa Vista, hoje chamada Ponte Velha, mas cujo nome oficial é Ponte 6 de Março.
No bairro de Santo Antônio pode ser apreciada a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio, um dos templos mais bonitos da cidade, finalizado no século XVIII, que possui um estilo barroco colonial e está localizado em volta da Praça da Independência. No local onde a igreja foi construída jaziam, antes, as trincheiras dos holandeses e a conhecida Casa de Pólvora.
No bairro, encontram-se ainda o Liceu de Artes e Ofícios, a Secretaria da Fazenda, o Arquivo Público Estadual - que possui o maior acervo bibliográfico da História de Pernambuco -, a Praça Joaquim Nabuco - onde se encontra o tradicional restaurante Leite - o Gabinete Português de Leitura, fundado em 1850, a Ponte Duarte Coelho (que liga a avenida Conde da Boa vista à avenida Guararapes), e a Ponte Santa Isabel (que liga a Praça da República à rua da Aurora). Uma outra suntuosa edificação, inaugurada em 1930 e situada na Praça da República, é o Palácio da Justiça, que ocupa um espaço no qual fora construído o viveiro de peixes do Palácio de Friburgo. Ali, pode-se apreciar um baobá, uma árvore proveniente das estepes africanas cujo tronco chega a atingir nove metros de diâmetro. Esse baobá foi tombado pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, no dia 2 de abril de 1986. No século XIX, o Conde da Boa Vista construiria o novo Palácio do Governo, passando a sua praça a ser chamada Largo do Palácio. Em 1859, depois da visita de Dom Pedro II a Pernambuco, o local foi denominado Campo das Princesas. E, por fim, com a queda do império e a conseqüente mudança da forma de Governo, o logradouro adquiriu o nome pelo qual ainda é chamado hoje: Praça da República. Situada em pleno centro do Recife, encontra-se a Praça da Independência. Durante o domínio holandês, ela já figurava na planta da Cidade Maurícia como o Terreiro dos Coqueiros, local onde funcionava um grande mercado. O logradouro público foi chamado ainda de Praça Grande, Praça do Comércio e Praça da Ribeira. Em 1788, ele continha sessenta e duas casinhas - que vendiam gêneros de primeira necessidade – e era chamado Praça da Polé. Em 1816, passou por uma reforma significativa, as casinhas foram substituídas por lojas de maiores dimensões, e ficou sendo chamado Praça da União. Em 1833, finalmente, adquiriu o nome Praça da Independência. No entanto, por se encontrar nessa Praça o edifício do Diario de Pernambuco - o jornal mais antigo da América Latina -, ficou popularmente conhecida como Praça do Diário ou Pracinha. No começo do século XX, com o objetivo de ampliar o local, vários quarteirões e lojas foram demolidos: a Praça duplicou de tamanho e adquiriu mais ou menos as dimensões que hoje possui. Por sua vez, foram ali erguidos um conjunto de esculturas em gesso, simbolizando "as três raças unidas contra o invasor", um arco de triunfo, e o busto de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1891 -1968), com uma caneta em punho a escrever, ambos criados pelo notável escultor Abelardo da Hora. A Praça da Independência é considerada, hoje, como a de maior movimento na cidade e o coração do bairro de Santo Antônio. Por ela, terminam ou iniciam várias vias públicas, tais como as ruas Duque de Caxias, Primeiro de Março, Nova, Matias de Albuquerque, Engenheiro Ubaldo Gomes de Matos, as avenidas Dantas Barreto e Guararapes, e o Largo do Rosário. É nessa praça onde são realizados os grandes comícios e partem passeatas, procissões, cortejos cívicos, blocos de carnavais, centralizando também as manifestações e/ou reivindicações políticas, religiosas, e culturais que ocorrem no Estado de Pernambuco.
Recife, 3 de março de 2006.
FONTES CONSULTADAS: BAIRRO Santo Antônio. [Foto neste texto]. Disponível em: <https://goo.gl/SJ0ezl>. Acesso em : 9 mar. 2017. BRAGA, João. Trilhas do Recife; guia turístico, histórico e cultural. Recife: [s.n.] 2000. CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1998. FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos. Diccionario chorografico, histórico e estatístico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908. 4v. GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970. IBGE. Censo 2000. PERFIL Municipal: histórico e evolução urbana. Recife: URB/DPU/DEP, 1989. ZANCHETI, Sílvio Mendes; LACERDA, Norma; MARINHO, Geraldo (Org.). Revitalização do bairro do Recife: plano, regulação e avaliação. Recife: UFPE, Editora Universitária, Mestrado em Desenvolvimento Urbano e Regional, Centro de Conservação Integrada Urbana e Territorial, 1998.
COMO CITAR ESTE TEXTO: Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Santo Antônio (bairro, Recife). Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php>. Acesso em:dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.
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