Forte das Cinco Pontas |
Ter, 30 de Março de 2010 12:42 |
Semira Adler Vainsencher Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Construída em taipa sobre um solo alto, e dominando, por completo, o porto do Recife, a fortaleza possuía como padroeira Nossa Senhora da Assunção. Ficava em uma área próxima às cacimbas de água potável de Ambrósio Machado, um abastado senhor de engenho na ilha de Antônio Vaz. Em decorrência de sua proximidade com tais cacimbas, também foi denominada de Forte das Cacimbas de Ambrósio Machado e de Forte das Cacimbas das Cinco Pontas. Os objetivos mais relevantes daquela fortaleza eram os de garantir à população o suprimento de água potável, mediante a proteção das cacimbas (ponto vital para o abastecimento d’água do Recife), e impedir que os navios inimigos circulassem pelas águas do rio Capibaribe, e chegassem até a Barreta dos Afogados (através de uma passagem existente nos arrecifes), podendo se evadir, a partir daí, com os barcos carregados de açúcar. Com a vinda do Conde João Maurício de Nassau-Siegen para o Recife, os holandeses iniciaram a construção de um canal de trinta metros de largura, partindo do Forte Frederico Henrique e se estendendo até o local onde se encontra, hoje, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Em 1637, por sua vez, as muralhas e a profundidade do fosso da fortaleza foram reformados. No século XVII, ela é destruída por João Fernandes Vieira e ocupada por tropas luso-brasileiras, sob o comando de André Vidal de Negreiros e do general Francisco Barreto de Menezes. A capitulação dos holandeses ocorre na campina do Taborda, perto do atual Cabanga Iate Clube. Quando o Forte foi rendido, em 1654, havia os seguintes elementos em seu inventário oficial: 17 canhões de calibre 2 a 24, dois alfanges de cortar cabeça e vários outros apetrechos bélicos. A esse respeito, existe hoje, na entrada do Forte, uma placa que registra a rendição holandesa:
Durante essa restauração, porém, um dos baluartes (ou pontas) do forte é suspenso, e o local fica reduzido a quatro pontas apenas (adquire a forma quadrangular), ao invés da pentagonal do início. De 1746, encontra-se preservada a seguinte descrição do Forte das Cinco Pontas: "um quadrado com quatro baluartes, com fossos e estrada coberta, e montava 8 peças de bronze de calibre 6 a 14, 8 de ferro de calibre 6 a 30, e 6 pedreiras de bronze de calibre 1 e 2; era comandado por um Capitão que recebia 16$000 de soldo por mês e mais 3 quartas de farinha, tinha um destacamento de fuzileiros e artilheiros, com um sargento e um condestável."
Mas, continua a ser chamado, por todos, de Forte das Cinco Pontas (ouVijfhoek, em holandês), por ter a forma de uma estrela. A despeito da perda de um baluarte, o local termina ficando, mediante a nova configuração, com uma área total bem maior que a anterior. Cabe dizer ainda que, durante muitos anos, a fortaleza funcionou como uma prisão.
O último nome adquirido pelo forte, finalmente, é o de São Tiago das Cinco Pontas, pelo fato de haver, em seu interior, uma pequena capela dedicada a São Tiago Maior, um dos seus santos padroeiros.
Por volta do ano 1817, o local abriga, também, a sede do Quartel General Militar. Antigamente, o forte possuía uns subterrâneos que serviam de prisão, mas eles foram demolidos no ano de 1822, por ordem de Gervásio Pires Ferreira, que dirigia a Junta do Governo Provisório de Pernambuco. Tais subterrâneos, vale salientar, eram verdadeiros túmulos dos vivos. Um dos presos mais ilustres, em 1935, tratou-se do romancista Graciliano Ramos. Em Memórias do cárcere, seu famoso livro, Graciliano se refere à Estação de Cinco Pontas como sendo um quartel.
O Forte de São Tiago das Cinco Pontas possui um pátio interno, várias celas com grades pesadas, feitas em ferro, e um túnel oculto, planejado para os holandeses fugirem, caso sofressem uma invasão. As muralhas da construção, por outro lado, se apresentam recortadas nos pontos em que aparecem os antigos canhões de bronze. Pode-se apreciar um belo portão na entrada da fortaleza, todo feito em madeira de lei. As demais portas e janelas do forte foram confeccionadas com material idêntico.
Ao lado da fortaleza há um histórico paredão onde, no dia 13 de janeiro de 1825, foi morto o frade carmelita Joaquim do Amor Divino Caneca - o conhecido Frei Caneca. Tal paredão ficava junto à forca, onde deveria morrer o célebre mártir pernambucano.
No início do século XX, o Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucoano mandou colocar uma lápide em mármore, na parede onde Frei Caneca foi morto, contendo os seguintes dizeres:
JUNTO À FORCA, A 13 DE JANEIRO DE 1825 POR NÃO HAVER RÉO QUE SE PRESTASSE A GARROTEÁ-LO O PATRIOTA Homenagem do Instituto Archeologico e Geogrraphico 2-7-1917 Pernambuco
A fim de preservar a memória nacional, o então prefeito Gustavo Krause, no dia 14 de dezembro de 1982, transformou o Forte das Cinco Pontas em um museu: o Museu da Cidade do Recife. Com exceção das segundas-feiras, esse museu está aberto à visitação pública todos os dias, incluindo sábados e domingos. O local possui um vasto e importante acervo iconográfico, recolhido em Pernambuco e em Portugal, onde se encontram expostos projetos originais de construções civis, militares e eclesiásticas, cartografias, pinturas, desenhos, esculturas e gravuras.
No museu, dentre as peças importantes podem ser apreciadas as seguintes: maquetes das distintas formas da fortaleza; pinturas de Franz Prost, expondo o Recife e a sua população durante o período holandês; fotografias antigas do Recife; coleção de gravuras antigas; portas entalhadas da Igreja dos Martírios (todas em madeira de lei); peças arqueológicas do próprio forte; pinhas de louça portuguesa de Santo Antônio do Porto; canhões de várias procedências; barra de ouro (de 1645) com um sinete da Companhia das Índias Ocidentais (que foi encontrada em Pernambuco); e uma chave simbólica (em ouro e prata) entregue a Dom Pedro II, por ocasião de sua visita ao Recife em 1859.
O Museu da Cidade do Recife abriga, além dessas relíquias, uma parte do acervo da igreja dos Martírios, um conjunto de 150 mil mapas e fotografias, incluindo 1.114 negativos em vidro, telas, assim como uma exposição de 800 peças que registram o desenvolvimento da cidade do Recife.
(Texto atualizado em 5 de maio de 2008).
FONTES CONSULTADAS:
BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e Recife. São Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983 .
BARBOSA, Fernanda de Paula. O Forte das Cinco Pontas. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1972. Separata da Revista do Departameto de Cultura, n. 5.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
MOTA, Mauro. Fortalezas do Recife: Cinco Pontas e Brum. Arquivo Público Estadual, Recife, n. 1, p. 79-86, jan./jun. 1946.
RIBEMBOIM, José Alexandre. As comunidades esquecidas: estudo sobre os cristãos-novos e judeus da vila de Igarassu, capitania de Itamaracá e cidade Maurícia. Recife: Officina das Letras, 2002.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: Ed. do Autor, 2002.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Forte das Cinco Pontas. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009. |