Balé Popular do Recife |
Lúcia Gaspar Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
A história do Balé Popular do Recife tem início em 1976, quando o então secretário municipal de Educação e Cultura do Recife, Ariano Suassuna, e o artista e encenador André Luiz Madureira, ambos participantes do grupo teatralGente Nossa, resolveram fazer um trabalho experimental com danças e folguedos populares. O resultado, após muito trabalho de observação e pesquisa com grupos de bumba-meu-boi, caboclinhos, maracatu e pastoril, foi o espetáculoBrincadeiras de um circo em decadência, realizado em 1977, o primeiro encenado pelo então Grupo Circense de Dança Popular, composto de doze integrantes, entre os quais cinco irmãos Madureira: André Luiz, fundador, coreógrafo e principal responsável pelo Grupo, Ana Tereza, Anselmo, Anthero e Antúlio, além de namorados, cunhados, vizinhos e amigos mais próximos da família. O espetáculo foi um sucesso de público e de crítica, passando a ser apresentado em um circo armado na Rua da Aurora, chamado de Circo da Onça Malhada. O Grupo recebeu total apoio do então secretário Ariano Suassuna, que ofereceu o Teatro Santa Isabel para que lá fosse instalada a sede do projeto, conseguindo também uma subvenção da Prefeitura do Recife. Em maio de 1977, Ariano Suassuna rebatizou o Grupo de Balé Popular do Recife, cuja proposta, desde o início, foi a de resgatar os festejos e folguedos populares do Nordeste brasileiro, sempre em sintonia com a dança, o teatro e a música. Trabalhando muito com a observação e a pesquisa dos folguedos folclóricos de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, o Balé Popular do Recife, segundo André Madureira, teve diversos colaboradores na sua formação e desenvolvimento: o Capitão Antônio Pereira, do Boi Misterioso de Afogados; Seu Muniz, da Tribo Caetés; Zezinho Alfaiate, do Caboclinhos Sete Flechas; o cantor Nozinho do Xaxado; Coruja, passista de frevo e o Grupo Coruja e seus Tangarás; o Velho Faceta, personagem do pastoril; Dona Célia, do Maracatu Cruzeiro do Forte e o Mestre Mariano, do Cavalo-Marinho de Cruz de Rebouças. Ainda de acordo com o fundador do Grupo: Este trabalho de pesquisa consistia não só na observação dos grupos populares, mas em fotografá-los, em catalogar os seus passos de dança, seus trajes e adereços, bem como em gravar suas músicas e em conhecer seus rústicos instrumentos. Com a saída de Ariano Suassuna da Secretaria Municipal de Educação e Cultura do Recife, em 1978, o Balé passou a manter-se principalmente com os recursos financeiros resultantes de suas apresentações no Recife e em outras cidades. O Grupo estreou seu segundo espetáculo Prosopopéia: um auto de guerreiro, em 1979. Envolvendo grande número de figurinos e adereços, com duas horas de duração e um alto custo, o trabalho pretendia levar ao palco folguedos e danças populares de todo o Nordeste brasileiro. A produção, que se constituiu num grande sucesso do Grupo, contabiliza mais de mil apresentações em teatros, simpósios, seminários, congressos, hotéis e praças públicas no Brasil e no exterior. Com Prosopopéia a companhia do Balé Popular do Recife realizou inúmeras apresentações nacionais e internacionais. A primeira turnê nacional aconteceu, em 1980, no Ciclo de Dança do Rio de Janeiro, seguindo-se a participação no projeto Mambembão, do Governo Federal (1981 e 1984), quando foi considerado o melhor espetáculo do ano; no Festival Internacional de Teatro de São Paulo (1981) e nos festivais de arte realizados em Campina Grande (PB), São Paulo, Salvador e Laranjeiras (SE), entre outras. Em 1982, o Balé apresentou-se pela primeira vez no exterior, nas cidades de Tel-Aviv, Jafa, Haifa e Jerusalém, a convite do Governo de Israel. Seguiram-se a participação em outras turnês internacionais, como o Festival de Expressão Ibérica, na cidade do Porto, Portugal, representando o Brasil, e a realização de uma temporada no Teatro São Luiz, em Lisboa, e na Galícia, Espanha (1983); oFestival Internacional de Arequipa, no Peru, e uma excursão de dois meses pela Argentina (1984); o Festival Internacional de Folclore, em Miami, nos Estados Unidos (1985) De 1982 a 1999, o Balé teve sua sede no Centro de Convenções de Pernambuco, período em que foram montados mais três espetáculos: Oh, Linda Olinda! em homenagem aos 450 anos de Olinda (1985); Nordeste: a dança do Brasil (1987), para comemorar o aniversário de dez anos do Balé, quando foi apresentado um novo figurino e uma trilha sonora especial; e Brasílica: o romance da Nau Catarineta (1992), uma superprodução baseada num romance popular, fazendo uma síntese da trajetória da companhia nos seus quinze anos e prestando uma homenagem ao Movimento Armorial e ao Teatro Popular do Nordeste. Com o espetáculo Nordeste: a dança do Brasil, a companhia passou três meses na França, apresentando-se em mais de oitenta escolas da Região Metropolitana de Paris. Era uma superprodução do Grupo, inédita no Nordeste, que reuniu todo o seu elenco, composto por cinquenta adultos e dez crianças, oCoral São Pedro Mártir de Olinda, com 43 vozes e o Trio Romançal Brasileiro. O repertório musical do Balé tem, na sua maioria, composições dos irmãos Antonio José, o Zoca, e Antúlio Madureira. Zoca fez parte, na década de 1970, do Quinteto Armorial, em companhia do artista Antonio Nóbrega e Antúlio, que começou sua carreira como ator e bailarino, passou depois a ser diretor musical do Balé, além de integrar o Trio Romançal, que se apresentava junto com o Grupo no espetáculo Nordeste: a dança do Brasil. Dos experimentos musicais de Antúlio, na época, surgiram instrumentos como o marimbal de lata,o garrafone, o mocenho. Desde junho de 1982, o Balé começou a atuar também na área educacional, criando cursos de iniciação à dança popular do Nordeste, com o objetivo de formar não só seus próprios bailarinos como atender ao público interessado em dança, música e teatro. Surgiu, assim, em 1983, a Escola Brasílica de Expressão Artística, que funcionou de início na Casa da Cultura de Pernambuco e depois foi transferida para um casa alugada na Rua do Sossego, no bairro da Boa Vista. Foi também na Casa da Cultura, em janeiro de 1984, que a companhia criou a Feira do Frevo, uma apresentação semanal ao ar livre, com uma orquestra de metais e passistas do Balé, procurando divulgar e valorizar, cada vez mais, a cultura pernambucana e nordestina. Em setembro de 1991, com o espetáculo O baile do menino Deus, foi criado como um desmembramento do Balé Popular do Recife, o Balé Brasílica. Composto por jovens alunos e pesquisadores da cultura nacional com idades entre 12 a 19 anos, tem como objetivo principal preservar, registrar, recriar e divulgar os autos e folguedos populares do Brasil, especialmente das regiões Norte e Nordeste. Para comemorar seus trinta anos de existência, em 2007, o Balé Popular do Recife montou o espetáculo As andanças do Divino, com roteiro e trilha sonora de Zoca Madureira, baseado na história do mestre mamulengueiro Simão Madureira que sai do sertão rumo ao litoral, encenando a Paixão de Cristo com seus bonecos. Apesar do incêndio que destruiu sua sede, no dia 1º de fevereiro de 2009, atingindo principalmente a sala onde eram guardados os figurinos e adereços da companhia, o Balé Popular do Recife, um dos mais antigos e tradicionais do Brasil, continua em plena atividade, pesquisando a cultura popular, criando passos e movimentos e ensinando o método da dança brasílica, assim explicada pelo seu criador André Madureira: Na dança brasílica não há necessidade nem de um determinado ritmo, nem do traje típico folclórico, nem do passo. A dança brasílica tem sua própria técnica, não necessita de outras técnicas de dança erudita, estas contribuições do clássico, do contemporâneo vêm, por herança, afinal somos um povo miscigenado. Agrupar as informações e subsídios de várias danças populares e criar um balé nacional, e não o balé nacional, que venha a valorizar as características primordiais da dança popular, mas numa linguagem atual, moderna, contemporânea, futurista, este sempre foi o objetivo da dança brasílica.
Recife, 1º de dezembro de 2009. FONTES CONSULTADAS: BALÉ Popular do Recife. Disponível em: <http://nandoagra.sites.uol.com.br>. Acesso em: 21 out. 2009.
GALDINO, Christianne. O Balé Popular do Recife e a família Madureira. Continente Multicultural,Recife, ano 7, n.83, p. 90-104, Nov. 2007.
MADUREIRA, André Luiz. Cultura Popular e o Balé popular do Recife. In: CULTURA popular em debate. Recife: Edições Centauro, 1988. p. 49-51.
TEMPORADA festiva para comemorar os 30 anos do Balé Popular do Recife. Disponível em: <http://www.vetorcultural.com/balepopularrecife.html>. Acesso em: 21 out. 2009.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
GASPAR, Lúcia. Balé Popular do Recife. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009. |