Clube das Pás |
Semira Adler Vainsencher Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.
O Clube das Pás é um dos grandes clubes carnavalescos de Pernambuco. Sobre a origem e trajetória do clube, um dos seus presidentes - Antônio Rodrigues da Costa, apelidado de Antônio Português - concedeu, certa vez, uma entrevista e narrou alguns dados registrados a seguir.
No primeiro dia de carnaval de 1887, no Porto do Recife, situado no bairro do Recife, estava fundeado um navio inglês aguardando o carregamento de carvão e alimentos. Havia escassez de mão-de-obra, e estava difícil se encontrar carvoeiros que abastecessem a embarcação. Esta, por sua vez, podia ficar apenas doze horas atracada no porto. Sem alternativa, a agência do navio ofereceu uma quantia maior de dinheiro àqueles carvoeiros que aceitassem trabalhar. E, somente assim, o navio pôde ser carregado e zarpar dentro do horário previsto.
Bastante felizes com o montante recebido, os carvoeiros foram comemorar no Clube dos Caiadores. Lá, entre uma dança e outra, decidiram criar o Bloco das Pás de Carvão. Entre os fundadores do Bloco estavam: Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira e João dos Santos. E, para a sede do Bloco, compraram, por seis mil cruzeiros, um terreno de propriedade do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória do Recife, Conceição de Olinda e Sagrado Coração de Jesus de Igarassu.
O Bloco das Pás de Carvão desfilou nos carnavais de 1888, 1889 e 1890. Em março do último ano, porém, mudou o seu nome para Clube Carnavalesco Misto das Pás. A primeira notícia impressa sobre ele saiu publicada no dia 4 de março de 1905, no jornal Diario de Pernambuco. Por sua vez, a cada 13 de Maio - dia da Abolição da Escravatura - o clube realizava uma passeata pelo Recife, em homenagem ao pernambucano e abolicionista Joaquim Nabuco.
Muitos clubes carnavalescos são oriundos de corporações de operários urbanos, e impregnados de elementos presentes nas procissões religiosas, que foram proibidos pelas autoridades eclesiásticas. Entre os elementos transplantados se encontram cordões de lanceiros, mascarados, diabos, balizas, bobos, morcegos e damas de frente. Dessa forma, no final do século XIX e início do século XX, surgiram no Recife os seguintes clubes de carnaval: Clube das Pás (1888), Vassourinhas (1889), Lenhadores (1889), Toureiros de Santo Antônio (1914), Pão Duro (1916), Pavão Misterioso (1919), entre outros.
A abertura dos desfiles é feita pelo diretor do clube. Ele entra vestido de fraque e com uma cartola na cabeça, e conta com a presença de balizas, porta-estandartes, morcegos, passistas, comissão de frente, dois cordões de homens e mulheres, todos eles fazendo evoluções. No final, vem a orquestra tocando músicas de frevo.
O Clube das Pás possui o estandarte mais antigo, que data do começo do século XX. O primeiro deles foi confeccionado em veludo, acolchoado de algodão, forrado com cetim e bordado com fios de ouro. O desenho do estandarte ficou a cargo de Manoel de Matos, sendo que as Monjas Beneditinas do Convento do Monte de Olinda o confeccionaram. No desenho estão evidenciadas folhas de acanto e outros elementos barrocos, o monograma do Clube, além de franjas e pingentes dourados. Observam-se, também, duas máscaras e uma boneca fabricada em porcelana francesa. Esta boneca parisiense foi trazida por antigo porta-estandarte, o alfaiate Manuel das Chagas, um grande folião. O atual estandarte foi confeccionado por Maria do Monte, uma antiga aluna e bordadeira das Monjas do Convento de Nossa Senhora do Monte de Olinda, em 1980.
O Clube das Pás representa o mais tradicional espaço de gafieira do Estado de Pernambuco; e, além de frevos de carnaval, sua orquestra toca rumbas, salsas, merengues, forrós, tangos, boleros e sambas. Desde 2004, Eraldo Gomes do Rego é o Presidente do Clube e, Zene dos Anjos Bezerra, seu Vice-Presidente. Existe, ainda, uma Diretoria Executiva e um Conselho Deliberativo.
Conhecido há muitas gerações, o Clube das Pás foi citado em alguns frevos, a exemplo de Voltei Recife, música composta por Luís Bandeira, que veio enriquecer o folclore do Nordeste brasileiro. Sua letra é a seguinte:
Voltei, Recife Foi a saudade que me trouxe pelo braço, Quero ver novamente Vassoura Na rua abafando, Tomar umas e outras E cair no passo. Cadê Toureiros? Cadê Bola de Ouro? As Pás, Os lenhadores, O Bloco Batutas de São José? Quero sentir A embriaguez do frevo, Que entra na cabeça Depois toma o corpo E acaba no pé.
Quem quiser conferir a popularidade daquele Clube, basta comprar um ingresso e “cair na gafieira”. É diversão na certa!
Recife, 26 de abril de 2009.
FONTES CONSULTADAS:
CAVALCANTE, David. Frevo completa 100 anos. Disponível em: <http://www.pstu.org.br/cultura_materia.asp?id=6169&ida=61>. Acesso em: 16 dez. 2008.
CLUBE das Pás. Disponível em: <http://www.clubedaspas.com.br/>. Acesso em: 16 dez. 2008.
CLUBE das Pás. Olinda/PE. Disponível em: <http://www.overmundo.com.br/guia/clube-das-pas>. Acesso em: 16 dez. 2008.
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