Mangues |
Regina Coeli Vieira Machado Servidora da Fundação Joaquim Nabuco
A definição de mangue pode ser dada a partir de uma paisagem vista como um mar de lama, onde floresce um tipo de vegetação arbórea que forma imensos bosques ou espalha-se em pequenas faixas às margens dos oceanos, estuários, lagoas e marés, habitados por milhares de espécies de peixes, moluscos, crustáceos e animais microscópicos.
Os primeiros registros da existência de manguezais na costa brasileira datam da época do descobrimento do Brasil, em 1500, quando Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal, D. Manuel, sobre a exuberante beleza geográfica e a abundante riqueza natural da nova terra conquistada, da gente que nela habitava, da fartura de alimentos que nela havia e da fauna e da flora que nela existiam.
No decorrer de toda a história do Brasil, muitos cronistas e historiadores, como José de Anchieta, Macgrave, Piso, Frei Vicente do Salvador, Gabriel Soares, Auguste de Saint-Hilaire e outros, registraram em seus diários de viagens, a presença de uma densa vegetação lenhosa que formava imensos bosques às margens dos oceanos, sob influência das marés.
Segundo dados oficiais, o Brasil possui cerca de 25.000 km de florestas de manguezais, que vão do Cabo Orange, no extremo norte do Amapá, até o rio Araranguá no litoral de Santa Catarina.
Os manguezais são um dos ecossistemas mais importantes e ricos do planeta, povoados por muitos animais e plantas exóticas. Abrigam e alimentam a fauna marinha composta por peixes grandes e pequenos, crustáceos, ostras, mariscos e caranguejos que se reproduzem em abundância e se alimentam das raízes nodosas das árvores e de suas folhas gordas, trituram os materiais orgânicos do solo e com suas carapaças e seus esqueletos calcários desempenham importante papel para a estruturação e consolidação do solo, contribuindo para o equilíbrio ecológico.
Para a natureza, os mangues são considerados uma espécie de maternidade do mar, da fauna e da flora, e para o homem uma importante fonte de alimento, garantindo a sobrevivência da grande população ribeirinha de pescadores.
As aves raras como o pelicano, o guará, as garças brancas e azuis, e os colhereiros, também escolhem as florestas dos mangues para se abrigar e viver na época da reprodução.
Para outros animais de outras florestas servem de refúgio quando ocorrem as queimadas e os desmatamentos.
São funções da vegetação típica dos mangues: evitar a destruição do litoral pela fúria do mar em tempo de maré alta; proteger as áreas ribeirinhas dos rios no período das chuvas; filtrar poluentes evitando que produtos tóxicos sejam despejados diretamente no mar e muitas outras formas de proteção ambiental.
As raízes submersas são utilizadas como fonte para o extrativismo vegetal, retirando-se o tanino, utilizado na curtição e polimento de couros e peles, assim como na pintura das velas de embarcações.
Nas últimas décadas a intervenção humana tem causado prejuízos avassaladores ao meio ambiente. E como todo ecossistema brasileiro, o mangue também tornou-se vítima passiva da degradação ambiental decorrente da pesca e da caça predatórias, desmatamento, assoreamento, erosão, aterramento, lixo urbano, despejos industriais, derramamento de óleo entre outros.
A degradação dos mangues vem causando grande desequilíbrio à fauna marinha de toda costa litorânea brasileira, comprovada pela escassez dos estoques naturais de camarões, peixes, lagostas, caranguejos, siris e muitos outros crustáceos e moluscos habitantes dos mangues e, sobretudo, pelos constantes ataques de tubarões aos banhistas nas praias do litoral pernambucano.
A imensa e bela biodiversidade encontrada no Brasil, que por muitos séculos fora exaltada pelos viajantes em seus diários de viagens, de um lado serviu de tema para os estudiosos e pesquisadores fazerem seus registros, contribuindo de certa forma para a historia do país, e por outro despertou os interesses mercantilistas dos mercadores europeus em suas ações exploratórias das riquezas naturais do Brasil, que tiveram início com a devastação da Mata Atlântica para a extração e contrabando do pau-brasil, da caça e pesca predatória da fauna, da extração de minérios e pedras preciosas.
Estudos feitos por biólogos e ambientalistas mostram que a chegada dos colonizadores portugueses e a crescente urbanização e ocupação essencialmente predatória dos franceses, espanhóis, holandeses, foi um marco histórico não somente para o processo de colonização mas também para o início da degradação e destruição da biodiversidade do ecossistema brasileiro.
Mas, como o planeta Terra é o berço da vida de milhares de espécies e como a mãe natureza é pródiga na sua biodiversidade, ainda há muito o que se preservar e ainda há tempo de combater a degradação ambiental. Resta apenas que todos os habitantes da terra e as gerações futuras assumam o compromisso com a preservação do meio ambiente, investindo no gerenciamento ambiental, no uso de tecnologias limpas e na utilização dos recursos naturais renováveis e sustentáveis.
[...] dentre todos os planetas do sistema solar até então descoberto, o planeta Terra, até que se prove o contrário, é o único que há bilhões de anos inspira vida a milhares de seres vivos. Por quê deixar a TERRA morrer ?[...]
Recife, 18 de julho de 2003. (Atualizado em 18 de agosto de 2009).
FONTES CONSULTADAS:
CONSERVAÇÃO ambiental no Brasil. Brasília: Programa Nacional do Meio Ambiente, 1997, 220p.
PEÇANHA, Marcela Pellegrini; FREITAS, Nobel Penteado; PEÇANHA, João Luiz Gonzaga. 500 anos de degradação ambiental no Brasil. Revista de Estudos Universitários, Sorocaba, SP, v.26, n.1, 171-183, jun.2000.
SILVA, José Antonio Tietzmann e. A biodiversidade como alternativa ao subdesenvolvimento,Estudos, Goiânia, v.30,n.10, p.2391-2402, out.2003.
ZULAUF, Werner E. O meio ambiente e o futuro. Estudos Avançados, São Paulo, v.14, n.39, p.85-100, maio/ago. 2000
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: MACHADO, Regina Coeli Vieira. Mangues. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009. |