Lúcia Gaspar Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.
[...] E dos pregões já não se ouve o do preto velho vendedor de ostras [...] Nem os dos vendedores de mel de engenho. Nem o das pretas vendedoras de sabão-da-costa. Nem dos vassoureiros que quando atravessavam as ruas pareciam figuras de homens a caminho de festas, de tão cheios de penachos e de cores vivas. [...] (Gilberto Freyre, 1961). Conhecidos em todo o mundo, os pregões são anúncios feitos pelos vendedores ambulantes de rua, com o objetivo de vender suas mercadorias. Antigamente, existiam em grande quantidade na maioria das cidades brasileiras. Hoje, no entanto, com a predominância de prédios de apartamento com muitos pavimentos, os chamados espigões, em vez das casas térreas e os sobrados pequenos de outrora, os pregões nas cidades grandes quase que desapareceram totalmente. Não é muito viável que o som chegue ao alto dos arranha-céus, nem que as pessoas desçam para comprar as mercadorias. Além disso, a proliferação dos supermercados, que praticamente fez desaparecer as pequenas vendas e mercearias, inviabilizou os pregões, principalmente nas grandes cidades brasileiras. Infelizmente, não houve a preocupação de gravar as vozes, palavras e entoações dos pregoeiros. Existem somente alguns registros escritos em poucas cidades brasileiras, como no Recife, Pernambuco, e em São Luís, no Maranhão. Há, atualmente, tentativas de levar o tema para a academia, por meio do estudo da música. Entretanto, os registros sonoros originais dos antigos pregões não foram preservados. Havia vendedores de frutas, verduras, peixes e crustáceos, remédios, sorvetes, caranguejo, vassoura, espanador, jornal, amendoim, macaxeira (aipim), rolete de cana de açúcar, doces diversos (pirulito, cocada, quebra-queixo, também conhecido como “japonês”, algodão doce), mel de engenho. Alguns usavam instrumentos musicais, como a gaita ou o apito, como o tradicional vendedor de pirulitos do Recife e cidades vizinhas. Segundo o folclorista Luiz da Câmara Cascudo, os pregões podem ser divididos em duas categorias: os individuais, em que os vendedores escolhem uma maneira própria de apregoar; e os genéricos, que são usados por todos os vendedores do mesmo artigo. Além de uma importante referência cultural, os pregões possibilitam o conhecimento de vários aspectos sobre os usos e modos de vida de uma sociedade. Reunimos, abaixo, alguns pregões registrados por pesquisadores nas cidades do Recife e de São Luís: • Olha o rolete! Rolete é de cana caiana! Quem vai querer? • Olha a bolinha de cambará, cura tosse e constipação! Olha a bolinha de cambará, um pacote custa um tostão! • Ostra, é chegada agora! É chegada agora..É chegada agora... • Mé novo, de engenho! • Banana prata e maçã madurinha! • Verdureiro! • Garrafeiii-ro! • Ó batata... Olha a batata! • Maracujá miúdo, no balaio de Iaiaá! • Fru-u-u-tas!... • Cuscuz... Olha o cuscuz quentinho! • Macaxeira! Macaxeira rosa • Macaxeira! Macaxeira Bahia, cozinha n'água fria! • Olha o amendoim! Amendoim torradinho! • Caranguejo! Olha o caranguejo! • Pirulito ! Olhe o pirulito ! Quem vai querer? • Olha o pirulito! Enrolado no papel enfiado no palito!... • Cavala! Olha a cioba! • Ma-ca-xeira! Macaxeira rosa! É rosa e Bahia... • Piii-tom-ba! Chora meni-i-no pra comprá pitomba! • Ei, piripiripiripiripitomba! Menino chora prá comprar pitomba! Ei, pitomba! • Sor-ve-te! Sor-ve-te! É ...de maracujá! • Sorvete! É de coco verde! • Prata! Prata e ouro! Compra-se ouro quebrado... Prata e ouro! • Mun-gu-zá! Tá quentinho!; • Manguzá, manguzá, feitinho por Iaiá, a sombra do Terço, à luz do luar … • Baaa-ta-ta! Bata doce, rainha! • Mi-ú-u-do!...Miudeiro! • Algodão doce!... • Eu tenho lã de barriguda para travesseiro! • Olha o cavaquinho! [Tin-lin-lim... Tin-lin-lim, o som do triângulo] • Cavaco chinês!... [Tin-lin-lim... Tin-lin-lim, o som do triângulo] • Ja-po-nês! Doce japonês!... • Diario e Commercio! Jor-na-leiro! • Rolete de cana caiana, manga de Itamaracá são os melhores que há!... • Mé nôô-vo! Mé novo de engenho! • Ver-du-rei-ro! Ba-na-na prata madurinha! • Gua-ra-ju-ba! Ô guarajuba!"... • Vassoura, espanador, regador, esteira d’angola, caçarola, grelha! Olhe o vassoureiro! • Espanador, vasculhador, colher de pau, esteira d’angola, rapa-coco e gelha... Eu tenho quartin-iiinha!.. • Olha a laranja, D. Arcanja. É doce que é uma beleza, D. Tereza. Tem tangerina, D. Felismina! • Laranja de Anajatuba. Quem não comprar fica com curuba! (sarna) • Caranguejo gordo! Olha o caranguejo, freguês! • Doce gelado! (era o pregão para o picolé, logo quando surgiu) • Sorvete!... Sorvete de coco e taperebá! • Sorvete!...Sorvete de coco, chocolate, creme, bacuri!... • Verdureiro!... Verdureiro chegou! Olha, aqui o verdureiro, freguesa!... • Garrafeiro... Compro garrafas, meias garrafas, litros e vidros... Freguês! • Pamonha... pamonha... Tá quentinha! A pamonha só é boa, quando é feita por “Didinha”. • A-ça-a-aí... A-ça-a-a-í... Olha a juçara, freguês! A-ça-a-aí... A-ça-a-a-í... • Arroz – de – cuxá!... (prato típico da cozinha maranhense). Chega, freguês!... Tá quentinho!... • Aê mingau de milho! Aê, mingau na hora. Vem comer; olha criança! Tá quentinho! Recife, 16 de novembro de 2011.
FONTES CONSULTADAS:
BOGÉA, Lopes; VIEIRA, Antonio. Pregões de São Luís. São Luís: Edições FUNC, 1980.
CASCUDO, Luiz da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Global, 2002.
FREYRE, Gilberto. Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife. 3. ed. rev. atual e aumentada. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1961.
MORHY, Érika. Estudo propõe inserção dos pregões na formação acadêmica. Disponível em: <http://www.ufpa.br/beiradorio/arquivo/Beira19/Noticias/noticia8.htm>. Acesso em: 16 nov. 2011.
PRAGANA, Maria Elisa Collier. Pregões recifenses. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Instituto de Pesquisas Sociais, Centro de Estudos Folclóricos, 1981. (Folclore, 106).
SOUTO MAIOR, Mário; LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de folclore para estudantes. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 2004.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: GASPAR, Lúcia. Pregões (folclore) . Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia mês ano. Ex.: 6 ago. 2011.
|