Manguebeat |
Cynthia Campos Coordenadora da Biblioteca Central Blanche Knopf Fundação Joaquim Nabuco
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O Manguebeat foi um movimento musical, e cultural por extensão, surgido no início da década de 1990, na cidade do Recife, sendo resultado de uma série de eventos que começaram ainda no final da década de 1970 e início da década de 1980, com o relaxamento da censura no Brasil por parte do Governo Militar. Relaxamento este que possibilitou a entrada de produtos culturais oriundos da Europa e dos Estados Unidos, como a literatura beatnik e as bandas do pós-punk, o que permitiu, segundo Galinsky (1999, p. 53) um tímido renascimento da cultura pop no Brasil. Segundo Teles (199?), crítico musical da época e amigo pessoal de Chico Science (principal expoente do Movimento), havia um programa na Rádio Universitária chamado Décadas, do qual participavam Renato L., Herr Docktor Mabuse e Fred 04, que sofria influência direta dessas bandas. A importância desse programa reside na existência de um espaço potencial para a execução de músicas não absorvidas pelas rádios comerciais e pela indústria fonográfica. Sobretudo porque Recife se encontrava estagnada, sendo possuidora do título da quarta pior cidade do mundo para se viver. (TELES, 199?). Alguns outros eventos concorreram para sedimentar o terreno para eclosão do movimento mangue, quais sejam: a proliferação de bandas de heavy metal e hard core, por volta do ano de 1987, que sem lugar para tocar, passaram a fazer seus shows num espaço chamado Arte Viva; Paulo André Pires, que foi produtor e empresário da Chico Science e Nação Zumbi (CSNZ), e atualmente é produtor do Festival Abril pro Rock, havia recém-chegado dos Estados Unidos e aberto uma loja de discos, a Rock Xpress, e começado a promover shows com bandas estrangeiras na cidade. Por meio da Rock Xpress, bandas como a CSNZ, a Mundo Livre S.A., a Loustal e o Lamento Negro pretendiam lançar um CD, intitulado “Caranguejos com Cérebro”, cujo press-release, escrito em 1992 por Fred 04, líder da banda Mundo Livre S. A., foi entregue à imprensa pelo próprio Paulo André, tendo sido publicado como Manifesto Mangue.
A partir de então, o Manguebeat, representando principalmente pelas bandas Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S.A., ao mesmo tempo em que atribuiu novos significados a gêneros da world music como o soul, o funk e a música eletrônica, também revitalizou os ritmos folclóricos pernambucanos, como o maracatu, o caboclinho e a ciranda. A partir de então, esses ritmos passaram a ser incorporados no cotidiano das classes médias recifenses, trazendo novas perspectivas às necessidades da cidade do Recife e tirando a cultura popular da marginalização (GALINSKY, 1999). Outro legado do manguebeat foi a inserção de jovens pertencentes às classes menos privilegiadas na cena musical da cidade. Como aponta Leão (2002), se antes o espaço do lazer eram as salas de concerto, os teatros, as casas de show, a partir do manguebeat, a rua passou a ser ocupada por jovens ávidos por diversão, culminando, por exemplo, com a revitalização do bairro do Recife Antigo, antes reduto de vagabundagem e prostituição. O manguebeat inseriu Recife e a música pernambucana e brasileira no debate sobre globalização, exatamente por fomentar a fusão de ritmos e o encontro do pop com o folk, permitindo o afloramento de uma discussão em torno das identidades locais, em que a cidade do Recife passa a ser reconhecida como uma metrópole latinoamericana, com todos os seus hibridismos. Inaugurou também uma linguagem musical que deu espaços para hibridismos na música pernambucana, incentivando centenas de jovens a formar a sua própria banda, o que desencadeou o aparecimento de novas bandas, que hoje se situam sob o rótulo de pós-mangue.
FONTES CONSULTADAS: GALINSKY, Philipe Andrew. Maracatu atômico: tradition, modernity and postmodernity in the Mangue Movement and “New Music Scene” of Recife, Pernambuco, Brazil. 1999. 2 v. Thesis (Philosopfy Doctor in Music) – Departament of Music, Wesleyan University, Middletown, 1999. LEÃO, Carolina Carneiro. A maravilha mutante: batuque, sampler e pop no Recife dos anos 80. 2002. 129 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002. TELES, José (Org.). Meteoro Chico. Recife: Bagaço, [199?]. COMO CITAR ESTE TEXTO: Fonte: CAMPOS, Cynthia. Manguebeat. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:. dia mês ano. Ex.: 6 ago. 2013. |